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sábado, 23 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE E LAZER: CONSELHOS MUNICIPAIS DE ESPORTE E LAZER E OUTRAS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO DIRETA
POLÍTICAS
PÚBLICAS PARA O ESPORTE E LAZER: CONSELHOS
MUNICIPAIS DE
ESPORTE E LAZER E OUTRAS FORMAS DE
PARTICIPAÇÃO
DIRETA
Fernando Augusto Starepravo
Mestre, Faculdade Guairacá e UNICENTRO
RESUMO
Este artigo
busca discutir as políticas públicas para o esporte e lazer elegendo dois eixos
centrais. O primeiro deles é trazer a contribuição de autores das Ciências
Sociais para qualificar a discussão; o segundo é trazer alguns dados empíricos
referentes aos
conselhos
municipais de esporte e lazer e outras formas de participação direta nos
municípios do
estado do Paraná. O que se vê na realidade estudada – políticas públicas
para o esporte e
lazer nos municípios paranaenses –, é que não há iniciativas a fim de
garantir uma
maior participação popular. Pelo contrário, em alguns casos os mecanismos de
participação popular são interpretados como ferramentas políticas que podem ser
utilizadas contra os agentes políticos consolidados no poder.
SUMMARY
This article
searchs to argue the public politics for the sport and leisure being chosen two
axles central offices. The first one of them is to bring the contribution of
authors of Social Sciences to characterize the quarrel; as it is to bring some
referring empirical data to the city councils of sport and leisure and other
forms of direct participation in the cities of the state of the Paraná. What if
it sees in the studied reality - public politics for the sport and leisure in
the paranaenses cities -, is that does not have initiatives in order to
guarantee a bigger popular participation. By the the opposite, in some cases
the mechanisms of popular participation are interpreted as tools politics that
can be used against the agents politicians consolidated in the power.
RESUMEN
Searchs de este artículo para
discutir la política pública para el deporte y el ocio que son elegidos dos
sede de los árboles. Primer de ellos es traer la contribución de los autores de
ciencias sociales para caracterizar la pelea; pues es traer un ciertos datos
empíricos que se refieren a los consejos de ciudad del deporte y del ocio y a
otras formas de participación directa en las ciudades del estado del Paraná.
Cuál si ve en la realidad estudiada - política pública para el deporte y ocio
en las ciudades de los paranaenses -,es que no tiene iniciativas para
garantizar una participación popular más grande. Por el contrario, en algunos
casos los mecanismos de la participación popular son interpretados como
política de las herramientas que se pueda utilizar contra los políticos de los
agentes consolidados en lo poder.
INTRODUÇÃO
A discussão sobre políticas
públicas para o esporte e lazer vem sendo, por nós
realizada, desde
o ano de 2000, junto ao Centro de Estudos em Esporte, Lazer e Sociedade
(CEPELS) da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), e posteriormente junto ao grupo de pesquisa
sobre políticas públicas para o esporte e lazer da Faculdade Guairacá, por mim coordenado.
Durante o processo de pesquisa, algumas inquietações nos surgem. Dentre outras,
a maior delas foi a falta de definições conceituais na área pesquisada que
pudessem embasar e qualificar a discussão a partir dos dados empíricos. A
produção de
conhecimento na
área de políticas públicas para o esporte e lazer está quase que exclusi- vamente
voltada ao relato de experiências. Os autores publicam, através de artigos e livros,
relatos sobre suas experiências enquanto gestores e coordenadores de projetos.
É
inegável a
importância deste tipo de publicação, principalmente para os gestores públicos do
esporte e lazer, que podem se espelhar nos erros e acertos de seus colegas.
Porém, quando publicamos experiências sem o diálogo com as teorias, corremos o
risco de pautar as discussões em idéias e ideais próprios. Isso faz com que
haja um questionamento sobre a qualidade dessa produção e não se avance na
discussão.
Diante desta inquietação,
partimos em busca de referências que pudessem embasar a discussão dentro dos
grupos de pesquisa. Dentro da literatura e produção científica da Educação
Física, pouca coisa foi encontrada. Destacamos os trabalhos de Mezzadri (2000)1, Linhales
(2001)2, Cristan (2002)3 e Zaluar (1994)4.
Paralelamente a este processo de busca de
referenciais, iniciamos no ano de 2004 uma pesquisa de campo intitulada “Diagnóstico
das Políticas Públicas para o Esporte e Lazer no Estado do Paraná”, onde
buscamos fazer um levantamento sobre as políticas de esporte e lazer praticadas
nos municípios paranaenses. Posteriormente, a pesquisa recebeu apoio do
Ministério do Esporte, através da Rede CEDES (Centro de Desenvolvimento do Esporte
Recreativo e do Lazer), sendo reformulada e ampliada. Com isso, a UFPR passou a
integrar a Rede CEDES, uma rede nacional coordenada pelo Ministério do Esporte
que discute temáticas relacionadas ao esporte recreativo e ao lazer.
Posteriormente a Faculdade Guairacá firmou parceria com a UFPR e vem
desenvolvendo este trabalho de pesquisa no município de Guarapuava e região.
No decorrer da pesquisa de campo e
do diálogo com as fontes, observamos a dificuldade em tratar com a diversidade
de temáticas surgidas a partir da coleta de dados, bem como com a exígua
produção acadêmica nesta área de conhecimento. Viu-se a necessidade de recorrer
a outras áreas do conhecimento para buscar suprir esta lacuna de falta de
referenciais, especialmente nas Ciências Sociais (sociologia, história,
política, entre outros). Ao adentrar um campo de conhecimento distinto sofremos
por vezes de naufrágios. Porém, optamos pelo enfrentamento, estudando
exaustivamente as fontes. Cientes dos riscos, mas também das interdependências
entre os diferentes campos do conhecimento, buscaremos neste artigo trazer
algumas contribuições teóricas
para a discussão
sobre políticas públicas para o esporte e lazer.
Elegemos para isso os autores
Pierre Bourdieu e Norberto Bobbio como nossos interlocutores para discutir um
tópico específico da discussão de políticas públicas para o esporte e lazer: a
ampliação da participação de agentes não ligados ao poder público, através dos
conselhos municipais de esporte e lazer e outras formas de participação direta.
1 MEZZADRI, F. M. A
estrutura esportiva no Estado do Paraná: da formação dos clubes as
atuais políticas
governamentais.
Campinas, 2000.Tese (Doutorado em Educação Física) – Faculdade de
Educação Física,
Universidade Estadual de Campinas.
2 LINHALES, M. A.
Jogos da política, jogos do esporte: subsídios à reflexão sobre políticas públicas
para o setor
esportivo. In: MARCELINO, N. C. Lazer e esporte: políticas públicas.
2. ed. – Campinas, SP:
Autores
Associados, 2001. p. 31-56.
3 CRISTAN. M.
Políticas de esporte: uma metodologia de estudo. In: PRONI, M. W. &
LUCENA,
R. Esporte:
história e sociedade. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. p.
207-248.
4 ZALUAR, Alba. Cidadãos
não vão ao paraíso. São Paulo: Ed. Escuta, Campinas, UNICAMP,
1994.
BOURDIEU E A
ESTRUTURA DO CAMPO POLÍTICO
Bourdieu, nascido em 1930 e
considerado um rebelde da elite intelectual, primou em suas primeiras
publicações de impacto5
pela
construção de objetos de investigação e, substancialmente, destacou-se pela
fecund idade e originalidade de seus métodos de análise e de seus conceitos
operacionais, destinados ao conhecimento dos processos de produção e consumo
cultural. 6
Preocupou-se
em estudar áreas não tradicionais, como esporte, televisão e alta-costura, bem
como áreas amplamente discutidas, como o campo da política e o campo da
educação. É grande sua contribuição para o estudo social do esporte, através de
seus conceitos e escritos. Porém, neste momento voltaremos nossa atenção para
alguns apontamentos do autor no que se refere à representação política e a
teoria do campo político, para discutir algumas questões referentes às
políticas públicas para o esporte e o lazer.
No texto “A representação
política: elementos para uma teoria do campo político”, Bourdieu começa
afirmando que:
Toda a análise
da luta política deve ter como fundamento as determinantes econômicas e sociais
da divisão do
trabalho político, para não ser levada a naturalizar os mecanismos sociais que
produzem e
reproduzem a separação entre os agentes politicamente activos e os agentes
politicamente
passivos e a construir em leis eternas as regularidades históricas válidas nos
limites
de um estado
determinado da estrutura da distribuição do capital. 7
Neste trecho, o autor nos coloca a
necessidade de entendermos o campo político,
sua divisão de
trabalho e distribuição de capital, para não naturalizar o abismo que separa os
agentes politicamente ativos (os políticos e gestores) e os agentes
politicamente passivos (aqueles que os elegem). Esta divisão desigual de poder
é algo historicamente construído e amplamente admitido pelos agentes
envolvidos, já que não há interesse pela inserção de novos agentes em um campo
onde poucos detém o monopólio da produção.
Com isso, as necessidades dos
agentes politicamente passivos por vezes não tem coro nas ações realizadas
pelos detentores do poder no campo político. Para Bourdieu,
... os efeitos
das necessidades externas fazem-se sentir nele por intermédio sobretudo da
relação
que os
mandantes, em conseqüência da sua distancia diferencial em relação aos
instrumentos de
produção
política, mantém com os seus mandatários e da relação que estes últimos, em
conseqüência de
suas atitudes, mantém com suas organizações. 8
com que a campo político tenha esta estrutura,
mas também as atitudes ou não-atitudes dos que estão à margem do processo de
decisão política, e a relação que mantém com as instituições do poder público.
A produção
dentro do campo fica então a cargo dos agentes politicamente ativos,
os quais
oferecem opções de políticas e ações públicas voltadas aos interesses que estes
interpretam como
prioritários.
O campo político
é o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes que nele se acham
envolvidos,
produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos,
5 Os argelinos, 1962; Os
herdeiros, 1964; Uma arte média, 1965; O amor da arte, 1966; A
reprodução, 1970; Esboço
de uma teoria da prática, 1972; A distinção, 1979.
6 MICELI, 1999,
citado por MARCHI JR., 2001, p. 28.
7 BOURDIEU, 2004a,
p. 163.
8 BOURDIEU, 2004a,
p. 164.
4
acontecimentos,
entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de consumidores,
devem escolher,
com probabilidades de mal entendido tanto maiores quanto mais afastados estão
do lugar de
produção. 9
Isso pode fazer com que as
opções oferecidas pelos agentes eleitos para a
representação
política não estejam em harmonia com os anseios daqueles que os elegeram.
E a estrutura de distanciamento está
a tal ponto consolidada, que há uma naturalização também desse descompasso
entre oferta e demanda dentro do campo político.
Monopólio de
produção entregue a um corpo de profissionais, quer dizer, a um pequeno número
de unidades de
produção, controladas elas mesmas pelos profissionais; constrangimentos que
pesam nas opções
dos consumidores, que estão tanto mais condenados a fidelidade indiscutida às
marcas
conhecidas e a delegação incondicional nos seus representantes quanto mais
desprovidos
estão de
competência social para a política e de instrumentos próprios de produção de
discursos
ou actos
políticos: o mercado da política é, sem dúvida, um dos menos livres que
existem. 10
Pela inacessibilidade aos
mecanismos de produção no campo político, a maioria
das pessoas
acaba ficando a margem do processo de decisão política, tendo que se contentar
com o que lhe são disponibilizados pelas unidades produtoras. Isso faz com que o
campo político se apresente enquanto um dos espaços sociais mais restritivos e inacessíveis
à entrada de novos agentes. As posições são conservadas e a produção concentrada,
fazendo com que o interesse da sociedade seja reduzido e interpretado a partir dos
interesses dos mandatários.
Os que dominam o
partido e tem interesses ligados com a existência e persistência desta
instituição e
com os ganhos específicos que ela assegura, encontram na liberdade, que o
monopólio da
produção e da imposição dos interesses políticos instituídos lhe deixa, a
possibilidade de
imporem os seus interesses de mandatários como sendo o interesse dos seus
mandantes. 11
A entrada neste
campo como agente politicamente ativo, bem como as posições
ocupadas pelos
agentes no interior do campo político, estão diretamente relacionadas à
concentração de
capital por parte destes agentes. Entendamos aqui capital como o conjunto de
recursos atuais ou potenciais pertencentes aos agentes, que pode assumir várias
formas, como capital cultural, econômico, social e político.
Os efeitos dos
obstáculos morfológicos que a dimensão das unidades políticas e o número dos
cidadãos opõem a
qualquer forma de governo direto são de certo modo aumentados pelo efeito
do
desapossamento econômico e cultural: a concentração do capital político nas
mãos de um
pequeno grupo é
tanto menos contrariada e portanto mais provável, quanto mais desapossados de
instrumentos
materiais e culturais necessários à participação activa na política estão os
simples
aderentes –
sobretudo, o tempo livre e o capital cultural. 12
Neste trecho Bourdieu enfatiza
que o capital, em suas formas econômico e
cultural, são
importantes ferramentas dos agentes para galgar e consolidar uma posição
dentro do campo
político. Isso faz com que tenhamos uma perspectiva um tanto quanto
pessimista diante
de nossa realidade local, onde a distribuição de capital econô mico e
cultural é tão
dissimétrica.
9 BOURDIEU, 2004a,
p. 164.
10 BOURDIEU, 2004a,
p. 166.
11 Id.ibid., p.
168.
12 BOURDIEU, 2004a,
p. 164.
O que implica
que a divisão do trabalho político varia em função do volume global do capital
econômico e
cultural acumulado numa formação social determinada (o seu nível de
desenvolvimento)
e também em função da estrutura, mais ou menos dissimétrica, da distribuição
deste capital,
particularmente do cultural. 13
Com isto
estabelecem-se regras no interior do campo, implícitas ou explícitas,
que garantem a
reprodução de procedimentos e posições, afastando o cidadão comum, ou não-
iniciado na política.
... do que esta
espécie de cultura esotérica, feita de problemas estranhos ou inacessíveis ao
comum, de
conceitos e de discursos sem referente na experiência do cidadão comum e,
sobretudo
talvez, de distinguos, de matizes, de subtilezas, de agudezas, que passam
despercebidos
aos olhos dos não-iniciados e que não tem outra razão de ser que não sejam as
relações de
conflito ou de concorrência entre as diferentes organizações ou entre as
tendências
ou as correntes
de uma mesma organização. 14
Os políticos ou gestores passam a
ser vistos com desconfiança e descrédito, fruto
da manutenção da
distância imposta pela estrutura e habitus 15 inerente ao campo político.
Para utilizar as
palavras de Gramsci: “nós outros, afastamo-nos da massa: entre nós e a
massa forma-se
uma barreira de quiprocos, de mal-entendidos, de jogo verbal complicado.
Acabaremos por
aparecer por pessoas que querem, a todo custo, conservar o seu lugar”.
Na realidade, o
que faz com que esta cultura propriamente política permaneça inacessível a
maioria das
pessoas é, sem duvida, menos a complexidade da linguagem em que ela se exprime
do que a
complexidade das relações sociais que constituem o campo político. 16
Toda esta
complexidade inerente ao campo político faz com que se acentue a
distância entre
os politicamente ativos e os politicamente passivos. Por um lado, há a
impressão de os
que já tem sua posição no campo político não tem interesse em ampliar a participação
dos não-iniciados. Por outro, os politicamente passivos não detém o capital econômico
e cultural necessário para adentrar o campo político.
Com isso
mantém-se uma estrutura inflexível, aparentemente difícil de ser alterada.
Porém, existem algumas tentativas no
contexto mundial de participação popular.
No âmbito do esporte e do lazer
podemos citar a criação de Conselhos Municipais e Estaduais de Esporte e Lazer,
órgãos consultivos ou deliberativos que podem fornecer
meios de acesso
de agentes não pertencentes ao grupo dos politicamente ativos aos processos de
decisão política.
BOBBIO:
DEMOCRACIA DIRETA E PARTICIPATIVA
Dentro da
discussão sobre democracia e participação, destacamos também a
contribuição de
Norberto Bobbio. Nascido em 1909 e tendo falecido no ano de 2004, em Turim,
Norberto Bobbio foi pensador, activista político, professor de direito e, mais
tarde, de ciência política, mas, sobretudo, um protagonista da esquerda
europeia.
13 Id.ibid., p.
164-5.
14 Id.ibid., p.
178.
15 “Um sistema de
dis posições adquiridas pela aprendizagem implícita ou explicita que funciona
como
um sistema de
esquemas geradores, é gerador de estratégias que podem ser objetivamente afins
dos interesses
objetivos de
seus autores sem terem sido expressamente concebidas para este fim” BOURDIEU,
1983d, p.
94.
16 BOURDIEU, 2004a,
p. 178-9.
Bobbio17, citando
Tocqueville (1835-40), fala sobre a importancia da relação do
indivíduo com o
outro dentro do sistema democrático:
Nas sociedades
aristocráticas, os homens não precisam unir-se para agir, porque já estão
solidamente
mantidos juntos. [...] Nas democracias, pelo contrário, todos os cidadãos são
independentes e
ineficazes, quase nada podem sozinhos e nenhum deles seria capaz de obrigar
seus semelhantes
a lhe emprestar sua cooperação. Se não aprendem a se ajudar livremente, caem
todos na impotência.
A capacidade de
organização e ajuda mútua seria um pilar fundamental ao
desenvolvimento
da sociedade. Neste sentido, Bobbio encaminha seu pensamento fazendo o relato
histórico da democracia representativa.
[...] o
principio da soberania do povo e o fenômeno da associação, o Estado
representativo, [...]
conhece um
processo de democratização ao longo de duas linhas: o alargamento do direito de
voto até o
sufrágio universal masculino e feminino, e o desenvolvimento do associativismo
político até a
formação dos partidos de massa e o reconhecimento de sua função política. [...]
com a passagem
da monarquia à república também o supremo cargo do Estado tornou-se eletivo
e portanto, no
sentido técnico da palavra, representativo.18
E caracteriza a
democracia direta:
Sob o nome
genérico de democracia direta entendem-se todas as formas de participação no
poder, que não
se resolvem numa ou noutra forma de representação (nem a representação dos
interesses
gerais ou política, nem a representação dos interesses particulares ou
orgânica): a) o
governo do povo
através de delegados investidos de mandato imperativo e portanto revogável; b)
o governo de
assembléia, isto é, o governo não só sem representantes irrevogáveis ou
fiduciários,
mas também sem
delegados; c) o referendum.19
Apesar de a
princípio se caracterizarem como formas diferentes de democracia,
a democracia
participativa, bem como a democracia direta trilham um caminho de
aproximação, no
sentido de garantir um alargamento do processo democrático. Não se trata de
substituir uma forma de democracia pela outra, mas sim garantir a extensão da
democratização:
O processo de
alargamento da democracia na sociedade contemporânea não ocorre apenas
através da
integração da democracia representativa com a democracia direta, mas também, e
sobretudo,
através da extensão da democratização – entendida como instituição e exercício
de
procedimentos
que permitem a participação dos interessados nas deliberações de um corpo
coletivo – a
corpos diferentes daqueles propriamente políticos.20
Seria o processo
de democratização da sociedade, considerando o individuo em
sua
multiplicidade, para além apenas da esfera politica, garantindo a participação
nas
tomadas de
decisão e no desenvolvimento da sociedade como um todo.
... se hoje se
deve falar de um desenvolvimento da democracia, ele consiste não tanto, como
erroneamente
muitas vezes se diz, na substituição da democracia representativa pela
democracia
direta [...],
mas na passagem da democracia na esfera política, isto é, na esfera em que o
indivíduo pe
considerado como cidadão, para a democracia na esfera social, onde o indivíduo
é
considerado na
mult iplicidade de seus status.21
17 BOBBIO, 2005, p.
152.
18 Id.ibid., p.
152.
19 Id.ibid., p.
154.
20 Id.ibid., p.
155.
21 Id.ibid., p.
155-6.
Neste sentido, a
criação dos Conselhos Municipais de Esporte e Lazer
consolidaria um
passo na direção da democratização e participação popular. Usando as
pensamento de
Bobbio, falar justamente de uma verdadeira reviravolta no
desenvolvimento
das instituições democráticas, reviravolta esta que pode ser
sinteticamente
resumida numa fórmula do seguinte tipo: da democratização do Estado à
democratização
da sociedade.
PARTICIPAÇÃO
DIRETA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE E
LAZER NO ESTADO
DO PARANÁ
Como já citado
anteriormente, desde o ano de 2004, o CEPELS vem realizando uma pesquisa que
busca diagnosticar as políticas públicas para o esporte e lazer praticadas nos
municípios do estado do Paraná. Parte da pesquisa é realizada através de uma entrevista
realizada junto ao Secretário ou Diretor de Esportes dos municípios. O
protocolo é composto por três eixos norteadores: Estrutura Administrativa,
Gestão Pública dos Municípios, Projetos e Eventos desenvolvidos nos municípios.
A partir das redes de interdependência desses três eixos podemos compreender
melhor as políticas públicas das cidades pesquisadas.
Não aprofundaremos a explicação de cada
uma das partes do protocolo. Voltaremos nossa atenção para um tópico específico
dentro no eixo da Gestão Pública dos Municípios:
a participação
da população na formulação de políticas públicas e projetos, através dos
Conselhos
Municipais de Esporte e Lazer e outras formas de participação direta.
Nas cidades
pesquisadas, Foz do Iguaçu, Cascave l, Maringá, São José dos
Pinhais,
Araucária, Colombo, Piraquara, Campina Grande do Sul, Guaratuba, Pontal do
Paraná,
Morretes, Antonina, Matinhos e Guaraqueçaba, constatou-se que nenhuma delas
apresentou
Conselho Municipal de Esporte e Lazer. Londrina é o único município que
contém um
Conselho, porém este é especificamente administrativo e ocorre junto a
Fundação do
Esporte (autarquia responsável pelo desenvolvimento pelo esporte e lazer no Município).
Algumas cidades como Foz do Iguaçu e Maringá justificaram a falta de um Conselho
Municipal para o Esporte. A primeira alegou que existia um Conselho, porém o prefeito
vetou este, pois teria se tornado uma ferramenta política na cidade. Já Maringá
justificou-se, pois grande parte das suas ações voltadas ao esporte foi
designada pelas Associações Esportivas.
Entendemos que o
processo necessário ao alargamento da democratização, nos
evidencia ainda
mais a necessidade de criarmos imediatamente os Conselhos Municipais de Esporte
e Lazer, sob o risco de perdermos cada vez mais a representatividade no
interior da sociedade. Compreendemos também, que a democracia somente se
fortalece com a participação dos cidadãos e com o controle dos mesmos sobre as
ações políticas. Desta maneira a incorporação do esporte e lazer com direito do
cidadão depende da participação da sociedade nas ações públicas.
Outra questão
pesquisada corresponde ao nível de envolvimento da sociedade na
elaboração das
atividades de esporte e lazer. Tratando deste envolvimento da comunidade na
elaboração das atividades de esporte e lazer, constatamos que apenas a cidade
de Araucária realiza audiências públicas específicas para o Esporte e Lazer.
Nas demais cidades pesquisadas a sociedade não participa da elaboração do Plano
de Governo. A representação da sociedade junto as Secretarias Municipais de
esporte e lazer ocorre nos
casos de
Londrina, Foz do Iguaçu, Cascavel, São José dos Pinhais, Guaratuba e Maringá,
através das
associações de bairro. Fica explicito aqui o modelo de representatividade, que segundo
Bobbio (1990) ocorre através da delegação de poderes do cidadão para o político
ou os administradores dessas associações.
CONCLUSÕES
Podemos constatar, tanto nas
palavras de Bourdieu, como nas de Bobbio, que o
modelo hoje
predominante é o modelo representativo, onde os eleitores, através do voto
delegam o poder
de decisão aos eleitos.
Bourdieu nos atenta aos
mecanismos que determinam as posições dos agentes
dentro do campo
político, através da distribuição desigual de capital e a estrutura inflexível de
poder. Bobbio, por outro lado, nos coloca a necessidade de avançar de um modelo
representativo para um modelo de democratização da sociedade, onde a tomada de decisões
esteja mais próxima da população.
O que se vê na realidade estudada –
políticas públicas para o esporte e lazer nos
municípios
paranaenses – é que não há iniciativas a fim de garantir uma maior participação
popular. Pelo contrário, em alguns casos os mecanismos de participação popular
são interpretados como ferramentas políticas que podem ser utilizadas contra os
agentes políticos consolidados no poder.
É preciso rever a relação entre os
políticos e gestores públicos e a população, pois com o amadurecimento da
democracia, as formas de participação direta ganham uma grande importância no
sentido de buscar legitimidade e soluções originais às demandas sociais.
Buscamos neste texto trazer uma
discussão pontual sobre participação nas políticas públicas para o esporte e
lazer, relacionando aos conceitos teóricos de dois autores das Ciências
Sociais. Não buscamos esgotar aqui esta discussão, e sim iniciá- la de forma
mais aprofundada, relacionando os dados empíricos às teorias no campo das Ciências
Sociais.
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ZALUAR, Alba. Cidadãos
não vão ao paraíso. São Paulo: Ed. Escuta, Campinas,
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Fernando Augusto
Starepravo
Rua Pedro Huk,
46 Bairro Uberaba
CEP 81550-230
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